Dicas para transformar a sua dissertação ou tese em livro

Vamos publicar a sua dissertação ou tese em livro. Tem dúvidas? Vem comigo que trago algumas dicas valiosas.
Importante dizer antes de tudo:
A decisão de mudar ou adaptar o texto da sua dissertação ou tese é exclusivamente sua. Como autor e pesquisador, você tem pleno direito sobre a obra que produziu — tanto no conteúdo quanto na forma. Nenhuma alteração é obrigatória.
O que apresento a seguir são sugestões e orientações pensadas para quem deseja transformar esse trabalho acadêmico em um livro mais acessível, atrativo e legível para outros públicos, além da banca avaliadora. Se esse for o seu objetivo, estas dicas podem ajudar muito no processo de adaptação, sem que você perca a identidade ou a profundidade do seu texto.

Transformar uma dissertação ou tese em livro acadêmico
Este é um processo que exige adaptação de formato, linguagem e estrutura para torná-lo mais acessível e interessante ao público leitor, sem perder o rigor científico. A seguir, explico cada item importante que deve ser considerado nessa conversão:
1. Revisão e adaptação do texto
Adequação da linguagem
A linguagem acadêmica tende a ser densa e muito especializada. Para o livro, é recomendável suavizar o tom sem comprometer a profundidade. Evite jargões e explicações excessivamente técnicas. Utilize frases mais curtas, com fluidez e clareza. Escreva como se estivesse dialogando com um leitor interessado, mas que pode não ser especialista no tema.
Exemplo: substitua “observa-se uma relação intrínseca entre as dimensões epistemológicas do saber e a práxis docente” por “há uma relação direta entre o conhecimento teórico e a prática dos professores”.
Reescrita de introdução e conclusão
Adapte a introdução para contextualizar o tema em termos mais amplos, destacando a importância social, política ou cultural da pesquisa. A conclusão deve deixar clara a contribuição do trabalho para o campo de estudo e propor desdobramentos possíveis. Ao invés de responder apenas à pergunta de pesquisa, traga reflexões mais amplas.
Dica: pense em como apresentar o problema de modo que qualquer leitor curioso consiga se interessar e compreender.
Corte de excessos
A versão original da tese muitas vezes traz explicações longas, referências a normativas institucionais, e discussões que só fazem sentido para a banca avaliadora. Faça uma leitura crítica e elimine trechos que não agregam para o público leitor. Priorize a fluidez da leitura.
Evite repetir argumentos em capítulos diferentes ou descrever em detalhes processos administrativos da pesquisa.
Simplificação
A metodologia deve ser apresentada de forma clara, mas sem o excesso de formalidades acadêmicas. Você pode até mesmo trazê-la resumidamente para dentro do texto de introdução. Informe o leitor sobre o caminho metodológico seguido, mas evite longas descrições de instrumentos, procedimentos ou justificativas técnicas.
2. Metodologia
Em vez de descrever página por página o processo de aprovação no comitê de ética, resuma dizendo que “o projeto foi aprovado conforme exigências éticas da instituição”.
Integração ao corpo do texto
Sempre que possível, a descrição metodológica pode ser incorporada na narrativa, especialmente em livros mais ensaísticos ou reflexivos. Isso torna a leitura mais fluida e evita interrupções estruturais.
Exemplo: “Para compreender as práticas pedagógicas, acompanhei durante três meses as aulas em duas escolas públicas da periferia de São Paulo.”
3. Apêndices e anexos
Apêndices
Se contêm informações fundamentais para o entendimento do argumento central (como um roteiro de entrevista com questões importantes), podem ser incorporados ao corpo do texto — preferencialmente em seções explicativas. Caso contrário, resuma o conteúdo principal e remeta o leitor ao final do livro.
Anexos
Documentos que não contribuem diretamente para a compreensão do texto devem ser suprimidos. Isso inclui autorizações de pesquisa, formulários completos ou documentos institucionais. Caso deseje, esses materiais podem ser disponibilizados online, via QRCode ou link.
Garantia de direitos
Sempre que for usar imagens, documentos ou tabelas de terceiros, verifique a necessidade de permissão por escrito. Isso é essencial para evitar problemas legais na publicação.
Inclua créditos claros e referências completas, mesmo para imagens de domínio público.
4. Imagens, tabelas e gráficos
Qualidade visual
Reproduções de baixa qualidade devem ser evitadas. Se as imagens forem fotografias, devem ter pelo menos 300 dpi de resolução. Diagramas e gráficos devem ser redesenhados, se necessário, para garantir boa apresentação gráfica.
Autorização
Não use imagens da internet sem checar a licença de uso. Mesmo imagens “gratuitas” devem ter seu uso autorizado, e a fonte devidamente citada.
Formatação
Tabelas devem ser digitadas diretamente no Word ou programa de diagramação. Evite colagens ou capturas de tela. Isso facilita a editoração e garante que o conteúdo fique acessível em versões digitais (eBooks, leitores de tela etc.).
Legibilidade
Certifique-se de que títulos, legendas e escalas de gráficos sejam compreensíveis fora do contexto da tese. Reescreva ou simplifique se necessário.
Evite expressões como “ver capítulo anterior” ou “segundo a tabela da página 87”.
5. Estrutura e organização do texto da dissertação e da tese
Remoção de elementos acadêmicos
Podem ser removidos:
- Resumo e abstract;
- Listas de tabelas, figuras e gráficos;
- Ficha catalográfica e folha de aprovação da banca.
Pode manter:
- Epígrafes.
- Agradecimentos (preferencialmente ao final do livro, em estilo mais pessoal).
- Lista de siglas e abreviações, se forem úteis ao leitor.
Adição
Inclua uma minibiografia dos autores ao final do livro. Isso ajuda o leitor a entender quem está por trás do texto, reforça a credibilidade e permite futuras conexões.
Inclua: nome completo, titulação, área de pesquisa, filiação institucional e e-mail (se desejar).
6. Ajustes editoriais finais para a publicação do seu livro
Título e subtítulo
Títulos excessivamente técnicos ou longos, como os que costumam acompanhar teses e dissertações, devem ser reformulados para a versão em livro. Pense em um título que seja atrativo, desperte a curiosidade e possa ser facilmente compreendido por um público mais amplo, inclusive fora do meio acadêmico. O subtítulo pode manter um tom mais explicativo, contextualizando o tema principal.
Essas adaptações também contribuem para a criação de uma capa mais equilibrada visualmente. Títulos mais enxutos permitem que o projeto gráfico tenha mais harmonia, evitando sobrecarga de texto e facilitando a leitura e o impacto visual da obra.
Exemplo: de “Processos de Construção da Identidade Docente em Escolas Rurais do Semiárido Brasileiro: Um Estudo Etnográfico” para “Ser professora no sertão – Identidade docente e desafios da educação rural”.
Capa, ISBN e ficha catalográfica
Esses itens serão definidos no momento da publicação com o apoio da editora. Mas já pense no projeto gráfico: a capa deve comunicar visualmente o conteúdo e ser coerente com a área de conhecimento.
Revisão ortográfica e gramatical
A revisão profissional é indispensável. Um bom conteúdo pode ser prejudicado por erros de linguagem. Além da revisão linguística, considere uma preparação de texto que identifique incoerências, repetições e problemas estruturais.
Dica final
Um olhar externo pode ajudar a identificar trechos pouco claros, lacunas ou excessos. Isso também garante que o livro seja bem recebido pela comunidade científica e pelo público geral.